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Medicamentos para diabetes e obesidade podem alterar paladar, indica estudo europeu
Pesquisa com usuários de Ozempic, Wegovy e Mounjaro associa mudança no gosto de alimentos a menor apetite e saciedade precoce
Por Jornalismo Tempo FM
17 de Setembro de 2025 às 11:48
Medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, usados no tratamento de diabetes tipo 2 e da obesidade, podem modificar a forma como os pacientes percebem o gosto dos alimentos. A constatação é de um estudo conduzido por cientistas da Alemanha e Áustria, apresentado no congresso da European Association for the Study of Diabetes (EASD), em Viena.
Segundo a pesquisa, publicada na revista Diabetes, Obesity and Metabolism, cerca de 20% dos usuários relataram sentir sabores mais intensos, especialmente doce e salgado. As alterações foram associadas à redução do apetite e à saciedade mais rápida.
Quem participou da pesquisa
O estudo envolveu 411 pessoas com sobrepeso ou obesidade, em uso das medicações por, no mínimo, três meses. O tempo médio de tratamento foi de 40 a 47 semanas. A maioria dos participantes era do sexo feminino (69,6%).
Distribuição dos pacientes:
148 com Ozempic
217 com Wegovy
46 com Mounjar
Principais descobertas
21,3% perceberam os alimentos mais doces
22,6% notaram sabores mais salgados
Não houve mudança na percepção de amargor ou acidez
58,4% relataram sentir menos fome
63,5% disseram se sentir satisfeitos mais rápido
O IMC médio caiu entre 15% e 17%
Um destaque foi o grupo que usava Wegovy: 26,7% disseram que a comida parecia mais salgada — índice superior ao dos grupos de Ozempic (16,2%) e Mounjaro (15,2%).
Por que o paladar muda?
De acordo com o endocrinologista Othmar Moser, líder do estudo, os medicamentos atuam não só no intestino e no cérebro, mas também em áreas responsáveis pela percepção de sabor e sensação de recompensa.
“Esses remédios podem alterar como sabores fortes, como o doce e o salgado, são percebidos. Isso, por sua vez, influencia o apetite e a sensação de satisfação”, explica Moser.
A hipótese é que, ao intensificar sabores, o cérebro pode estimular o corpo a consumir menos do alimento.
Alteração do paladar não garante emagrecimento
Apesar da correlação com menor fome e maior saciedade, os pesquisadores ressaltam que não foi comprovada uma relação direta entre a mudança no gosto e a perda de peso.
Segundo o estudo, o emagrecimento depende de múltiplos fatores, como metabolismo, alimentação, atividade física e genética. Ainda assim, os cientistas consideram que monitorar o paladar pode servir como indicador adicional de resposta ao tratamento.
Possíveis aplicações na prática clínica
Para a medicina, as descobertas podem abrir caminhos para abordagens mais personalizadas:
Dietas adaptadas ao novo paladar do paciente
Monitoramento sensorial como ferramenta de avaliação da resposta ao medicamento
Acompanhamento da adesão ao tratamento, observando se sabores intensificados afetam a aceitação dos alimentos
Limitações do estudo e próximos passos
A pesquisa foi baseada em questionários online com autorreporte dos pacientes, o que limita a comprovação de causalidade. Os autores recomendam estudos clínicos e laboratoriais mais robustos para validar as conclusões.
Conheça os medicamentos envolvidos
Ozempic: indicado para diabetes tipo 2, com perda de peso observada como efeito secundário.
Wegovy: versão com dose maior da mesma substância do Ozempic (semaglutida), aprovada especificamente para obesidade.
Mounjaro: contém tirzepatida, age em dois receptores hormonais e tem mostrado forte eficácia na redução de peso.
Todos pertencem ao grupo de medicamentos que imitam hormônios naturais do corpo para controlar a glicemia e o apetite, chamados de agonistas de incretinas.